A psicanálise é um processo, um trabalho em conjunto onde o analisante é sempre quem trabalhará mais que o seu analista. Como se dá isso?
a partir de suas demandas trazidas ao setting analítico o candidato a análise se coloca na posição daquele que deverá exercitar sua força de vontade de transformação. A transformação não significa que agora, o sujeito será um ser exclusivo cheio de competências nunca antes acessadas, ou quem sabe, melhor que aqueles que não vivem a experiência de se analisarem. A transformação se dá pelo desenvolvimento acolhido a cada passo, não por que alguém indicou o caminho, mas por que agora aquele sujeito se percebeu em uma jornada única. Ao iniciar uma análise de fato, ocorre mistos de sentimentos, indagações e implicações que antes não se dava tempo para se fazer. Ao mexer "no que está quieto"pode vir um convide a desistência, vem dor, angustia e é nesse momento que se começa a perceber o que o processo provocativo da psicanálise causa.
A psicanálise não é indicada para todos, sabe porquê?
Por que nem todo mundo vai conseguir olha no espelho que ela oferece. Cada um lida com sua angustia de forma diferente, alguns até convivem com suas angustia muito bem, sem esse sofrer elas não se validariam em seu meio social.
Um processo de cuidado é o que a psicanálise também oferece, não apenas falácias de que "faço análise para me conhecer", isso não existe, até por que todos nós já nos conhecemos bem, talvez não tenhamos coragem de acessar alguns 'departamentos" que há em nós. Mas o processo que me refiro está no campo do inconsciente, aquele que nos acompanha e aparece de qualquer jeito e não identificamos com clareza e é na análise onde pegamos ele de jeito, se assim permitirmos e insistirmos. Sim insistência, é uma das armas que se leva para o confronto com um inimigo maior em análise, a descoberta de Freud em meio aos seus estudos, o que ele nomeou de resistência. Resistimos a não olhar para que inconsciente está, mas o persistir nos leva mais longe nesse contato direto com um espelho que nos convida a encarar nosso, eu, nosso isso, nós.
Kelles Ferraz
Psicanalista
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